01 dezembro 2016

Para além das circunstâncias




Pouco depois de completado um ano do maior crime ambiental do país, a tragédia vivida em Mariana (MG) e pela população de cidades igualmente afetadas pelo rompimento da barragem da Samarco, estávamos novamente prestes a sofrer uma outra enxurrada de lama, só que desta vez no ambiente político do país. A onda de lama queria arrastar para a vala comum da impunidade crimes cometidos contra a democracia, as finanças públicas e a vida dos cidadãos.
Felizmente, soaram os alarmes e a reação contundente da sociedade, com o apoio da imprensa, conseguiu evitar a tragédia maior - pelo menos até agora. Parlamentares que se elegeram com recursos ilegais, como agora a sociedade começa a tomar conhecimento a partir das delações premiadas e das investigações realizadas pela operação Lava-Jato, usam desesperadamente seus mandatos para invalidar as penas pelos crimes que cometeram com o uso de recursos provenientes do caixa dois. Mas essa mobilização política por uma anistia ilegítima agrediu uma sociedade já machucada e farta de tanto desrespeito.
O presidente Michel Temer, temendo que esse "bicho" ferido ameaçasse seu próprio telhado de vidro, resolveu, tardia e constrangedoramente, remover um de seus mais influentes ministros, o qual igualmente buscava sua própria anistia para o crime que queria cometer contra a gestão pública e o patrimônio histórico de um dos símbolos de nossa identidade, a Salvador de todos os brasileiros.
Em uma outra frente, outro homem forte da sustentação política do governo Temer vinha usando as prerrogativas do Senado Federal para intimidar juízes, policiais federais e membros do Ministério Público Federal na indisfarçável intenção de ameaçar quem o está investigando.
No fim de semana, por medo e constrangimento, a trinca Temer-Maia-Calheiros anunciou que não apoiará a proposta de anistia para o crime de caixa dois. Propositadamente, não mencionaram nada a respeito da lei de abuso de autoridade que busca intimidar para não investigar e para não punir. Um sistema judiciário intimidado e com medo dos criminosos é a antessala da barbárie política e social. Basta olharmos para a Venezuela para ver o risco que corremos de nos tornar politicamente insustentáveis.
Nesta mesma semana, porém, outros dois eventos que ocorreram em São Paulo e em Minas Gerais nos apontam caminhos para sair deste ciclo vicioso. Um deles foi o Fórum Desenvolvimento e Economia de Baixo Carbono e o outro, o Fórum do Amanhã. Participando desses dois eventos havia um belíssimo time de brasileiros, integrado por jovens, especialistas, acadêmicos, empreendedores sociais e lideranças de vários segmentos discutindo ideias, trocando experiências e refletindo sobre os desafios da agenda estratégica que o Brasil precisa seguir na educação e para se desenvolver com sustentabilidade nas dimensões social, ambiental, econômica, cultural, política, ética e até mesmo estética.
De um lado, a energia criativa e vibrante da sociedade pensando e prospectando sobre as melhores possibilidades de que dispomos agora para a construção do futuro; do outro, representantes eleitos disputando sem trégua a liderança do atraso. Esse fosso entre representantes e representados é o nó górdio que fragiliza nossa democracia, empurra para o abismo as conquistas sociais, econômicas e institucionais dos últimos 30 anos e gera nas pessoas um sentimento de desesperança e indignação.
Durante os interessantes debates desses eventos, dois momentos me chamaram a atenção: as inteligentes reflexões do economista Eduardo Giannetti sobre um conceito próprio de desenvolvimento para o Brasil; e as análises apuradas pelo economista Marcos Lisboa, que refletiu sobre a importância e os desafios da produtividade brasileira para uma sociedade próspera e sustentável.
Temos que encarar o desafio econômico de pensar e apresentar alternativas para que o Brasil deixe de ser apenas o país gigante pela própria natureza para ser gigante pela natureza das nossas escolhas. O Brasil pode se tornar a grande referência mundial de uma economia de baixo carbono e de uso sustentável dos recursos naturais. Temos muitas vantagens comparativas que podem ser efetivamente transformadas em vantagens competitivas nas cadeias globais de produção e em novos setores da indústria. É bastante inspirador saber que para além da crise que estamos vivendo, temos um conjunto bastante qualificado de técnicos do governo, profissionais da academia, da imprensa, de organizações da sociedade civil e de empresas, buscando alternativas viáveis para consolidação de uma outra economia.
A sociedade está grávida de soluções, projetos e ideias, mas a maior parte dos governantes estão estéreis, tanto em suas práticas, quanto em suas opiniões. Isso acontece sempre que os mecanismos de troca entre representantes e representados são obstruídos pelo excesso de certezas dos que se encontram em situação de comando. Tenho repetido que quando a política já não consegue, com base na legitimidade da lei, ser capaz de resolver a maioria dos problemas, a única saída que lhe resta seja pedir socorro a justiça. Mas a insustentabilidade da crise política que estamos vivendo é tão grave e profunda, que talvez para sair da crise já não seja suficiente apenas a balança da justiça e a medida da política.
Que tal recorrer à coragem da psicanálise que nos desafia a vertigem do imprevisível, na desconstrução da ilusão da promessa, sobretudo daquelas que se pretendem abarcar a tudo e a todos. Apoiar-se na ousadia livre da arte que atravessa as barreiras do tempo, quebrando paradigmas e convenções, mesmo na maioria das vezes, correndo o risco de ser atropelada, por ter se especializada a andar na contramão, e na loucura da fé, que humildemente ensina que “Deus usa as coisas que não são para aniquilar as que são”.
Não temos que nos render às circunstâncias. Podemos inundar o lago da política com águas limpas, de outras fontes. E isso é tanto mais necessário quando reconhecemos a complexidade da crise civilizatória que estamos vivendo e soubermos que as respostas para essa crise talvez já estejam no tecido da própria civilização.
Artigo publicado no jornal Valor Econômico – http://bit.ly/2fQooU1

8 comentários:

Anônimo disse...

COMO O POVO SIMPLES, DO INTERIOR DO NORDESTE BRASILEIRO, FALA :¨VIXI¨...

Adaí Rosembak disse...

Rosalina,

Parabéns pelo texto publicado.
Estou com alguns problemas pessoais mas acharei tempo para falar sobre isso.
Vá em frente.

Este admirador

Adaí Rosembak

Rosalina de Souza disse...

Prêmio Pontualidade ANAPLAB.

JULITA APARECIDA GURGEL CEFALY GASPAR
Pensionista
Araraquara (SP)
Nº da sorte: 14870

Extração Loteria Federal: 5131, de 26/11/2016

Parabéns Minha Querida Amiga Julita pelo Prêmio, você merece muito esta sorte, bem próximo do Natal.

Anônimo disse...

Emérita Senhora ROSALINA:


O que foi que a ANABB achou da NÃO-SUSPENSÃO das parcelas do ES? Apesar de estar em FRANCA DECADÊNCIA (VAI ACABAR JUNTO COM O PB-1), ela não poderia TER NOS AJUDADO no pleito?

Rosalina de Souza disse...

Caro Colega das 10:31,

Nao espere nada da Anabb, nunca vai nos ajudar em nada, são colegas que ainda estão filiados por ações judiciais que nunca tem fim, justamente para segurar esses colegas e continuar a bancar a roda viva dos dirigentes.

Anônimo disse...

aposentados,

Vejam quem são os diretores da anabb e recorram ao passado assim poderão tirar suas conclusões.

Seria uma coincidência, tipo congresso nacional, tipo a n´s tudo a eles aposentados migalhas?

Anônimo disse...

Será que a Vovó já juntou dinheiro suficiente para se mudar para Miami, sem depender mais de eleições?

Sumiu no trecho...

Anônimo disse...

Senhores,

POR FAVOR DITADURA JÁ!

PRISÃO DESSA GENTE COM URGÊNCIA!

É a guerra meus senhores.
Esprema um gato contra a parede e ele PULARÁ EM TI e vai te machucar, senão o pior GANGRENA!